sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Celebrando o Pe. Alberione

HOMILIA DO CARDEAL JOSÉ SARAIVA MARTINS
 EM AGRADECIMENTO PELO BEATO
ALBERIONE
 CELEBRADA NA BASÍLICA DE SÃO PAULO


1. "A salvação do Senhor abraça o universo".
A antífona do salmo responsorial desta liturgia ressoa apropriada como nunca na nossa celebração de agradecimento ao Senhor pelo grande dom que o dia de ontem deu à Igreja, e em particular à Família Paulina, com a beatificação do Fundador, Pe. Tiago Alberione.
De facto, a salvação do Senhor oferecida a todos os homens e a necessidade que cada criatura a conheça e a receba, constituíram, pode dizer-se com razão, a única preocupação do novo Beato.
Da primeira inspiração, recebida no alvorecer do século passado com a "maior compreensão do convite de Jesus:  Vinde todos a Mim", até ao fim da vida, no horizonte mental e espiritual de Pe. Alberione encontrava-se sempre este anseio. Pe. Alberione recordou continuamente que a missão da Família Paulina é universal; e estimulou os filhos e as filhas a pensar e a desejar à grande:  "Ter um coração maior que os mares e os oceanos"!
2. Eis-nos, por conseguinte, a acolher o apelo divino com os sentimentos e o espírito do beato Alberione.
O trecho evangélico há pouco proclamado, sem dúvida, teria feito palpitar o coração de Pe. Alberione. Haverá outras palavras da Escritura que ele sentiu mais suas do que estas? "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida":  Pe. Alberione apresenta sempre estas palavras como a "definição completa" que Jesus deu de Si mesmo.
Jesus Caminho, Verdade e Vida é, na visão de Pe. Alberione, o Mestre-Pastor completo, "Jesus Cristo integral", que "ensina, precede com o exemplo, comunica a graça que deve ser acreditada e praticada". Por conseguinte, o Fundador nunca se cansou de repetir que para a Família Paulina "a principal devoção... é esta:  "Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida"".
Na linguagem do Pe. Alberione a palavra devoção tem uma ampla ressonância, que ele mesmo esclarece:  "Deve-se olhar para Ele e contemplar toda a sua figura". O que exige que a pessoa se abra completamente à presença e à obra de Cristo. Este dinamismo espiritual e apostólico é resumido pelo Pe. Alberione com expressões eficazes:  "Eis Jesus Cristo, Verdade para a nossa inteligência; Caminho para a nossa vontade; Vida para o nosso coração e sentimento".
Por conseguinte, cada membro da Família Paulina compreende que se deve entregar a Cristo permitindo-lhe que habite e cresça nele:  "Quanto mais o homem viver em Jesus Cristo, Caminho, Verdade e Vida, tanto mais será santo... Portanto, viva em nós Cristo, Caminho, Verdade e Vida", deseja Pe. Alberione. E o resultado será surpreendente:  "Então já não será o homem que pensa, que deseja e que ama; mas será Jesus  Cristo  que  pensará  por  ele, que amará nele, que terá nele todo o poder".
É assim que o Pe. Alberione concebe o apostolado paulino:  "O homem todo em Jesus Cristo, para um total amor a Deus sintetiza eficazmente o Fundador :  inteligência, vontade, coração, forças físicas. Tudo:  natureza, graça, vocação para o apostolado" (AD 100).
Também a profissão de fé de Pedro, que ouvimos na primeira leitura "Não há salvação em nenhum outro", ressoa com frequência nos ensinamentos de Pe. Alberione. Mas, como sempre, antes de ser anúncio aos outros, é para ele um tema de reflexão pessoal, meditação e contemplação aos pés de Cristo eucarístico, durante muitas horas. Tudo isto é traduzido em empenho de contínua conformação com o Mestre, para a santidade, como escreve nos seus Apontamentos espirituais:  "A santificação. Ela concretiza-se unicamente em Cristo; completamente santo quando "Cristo vive em mim". Ele é o único caminho, a única verdade, a única vida:  non est in alio aliquo salus. Sigamos o caminho conformando o nosso comportamento com Jesus; conformando a mentalidade com Jesus Cristo; conformando a vida do espírito com Jesus Cristo, participando na sua graça, ou seja, na vida sobrenatural".
No trecho da Carta aos Romanos o apóstolo  Paulo,  com  uma  sequência de perguntas, imerge-nos na urgência de que Cristo Salvador seja conhecido e aceite por todos:  "Mas, como hão-de invocar Aquele em quem não acreditaram?  E  como  hão-de  acreditar n'Aquele que não ouviram?... Que formosos são os pés dos que anunciam boas novas!".

Não há dúvida de que Pe. Alberione assumiu em plenitude o impulso apostólico de São Paulo, por ele definido "teólogo e arquitecto da Igreja". Se é verdade que o coração de Paulo era o coração de Cristo, como diz a bem conhecida expressão de Crisóstomo, pode-se afirmar que o coração de Pe. Alberione era o coração de Paulo!
3. Ouçamos agora com que temas inspirados o Fundador quer fazer "arder" o espírito dos seus filhos pela missão: 
"O trabalho mais nobre e útil para a sociedade é o apostólico:  "Que formosos são os pés dos que anunciam boas novas!". Foi o grande trabalho do ministério público de Jesus Mestre... O Apóstolo é um cooperador:  com Cristo, em Cristo, por Cristo, trabalha pela salvação dos homens, comunicando-lhes os grandes bens da fé, da santidade e da graça... Que os Nossos sintam como é grandiosa e bela a sua missão:  um dia verão os grandes merecimentos adquiridos... Unir a vida contemplativa com a actividade é o caminho mais perfeito:  arder e iluminar! Duas espécies de merecimentos:  santificação própria e zelo da glória de Deus".
Cooperar na obra de salvação, anunciar ao mundo Cristo, Mestre-Pastor, anunciá-lo com todas as linguagens novas da comunicação, é o conhecido programa de Alberione, é o Cristo mesmo que se revela aos homens através dos novos apóstolos, os apóstolos do nosso tempo. Surge disto a sua insistência sobre a urgência de ser homens de Deus, pessoas que se vão conformando com o Mestre Divino, homens e mulheres que se deixam fascinar por Ele e transformar n'Ele.

Por  conseguinte,  apóstolos  e  apóstolas. Poderá ser útil para nós ouvir como Pe. Alberiuone esboça a "alma apóstola": 
"A alma apóstola não é uma alma que ama a exterioridade:  é uma alma que cumula o próprio coração de fé, de esperança dos bens eternos; é uma alma que ama e exerce a virtude da pobreza, da castidade, da humildade, da obediência à Igreja e aos seus Pastores". [...] E acrescenta:  "Portanto, a alma apóstola deseja a glória de Deus e a paz dos homens, isto é, o seu bem, na medida do possível nesta terra, mas fundamental e firmemente, e, desejaria dizer, inexoravelmente o seu bem eterno, o Paraíso". [...]
A este ponto, como podemos sentir, sobressai aquele fervor apostólico que tanto animou os santos, de todos os tempos:  "A alma apóstola gostaria de sair de casa, ir pelas estradas, pelas cidades, pelas praias, pelos montes, às grutas:  gostaria de ir à África, à América, à Ásia, à Oceânia, para poder dizer a todos:  "Ó homens, Deus espera-vos no Céu. Salvai-vos!
Salvai-vos!". A alma apóstola tem um só grito:  "Dai-me almas e ficai com o resto. Eu, na terra, procuro unicamente a glória de Deus e a paz dos homens"".
A única aspiração da "alma apóstola", é a mesma de Jesus. O apóstolo arde por um só ideal:  dar a conhecer Jesus, dá-lo a conhecer a todos, consumir-se abundantemente como São Paulo para se fazer tudo em todos.
Foi o que viveu em primeira pessoa o Beato Pe. Tiago. E é também a recomendação que faz a cada um dos seus filhos e filhas, que me apraz repetir esta tarde. Ele dizia: 

"Levar a todos o bem extremo. A todos ajuda de oração, de conselho, de palavra, de edições, de ministério, de exemplo. [...] O maior bem na escola, o maior bem com a pregação, o maior bem no confessionário, o maior bem nas edições...".
"Levai, portanto, o maior bem". Assim seja hoje, amanhã, todos os dias e sempre. Eis a herança preciosa que o Fundador deixa à sua Família paulina.

Em nome do Senhor e em nome do novo beato Tiago Alberione. Amen.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

BREVE RESUMO DA CARTA APOSTÓLICA DE PAPA FRANCISCO

BREVE RESUME

          DA CARTA APOSTÓLICA DE PAPA FRANCESCO

        

Da Redação, com Boletim da Santa Sé

          

            O Vaticano divulgou nesta segunda-feira, 21, a carta apostólica Misericordia et misera, do Papa Francisco, por ocasião do encerramento do Jubileu da Misericórdia. O documento pode ser lido na íntegra, em português, na página do Vaticano, e está dividido em 22 pontos.

            O Santo Padre explica que essas duas palavras – misericórdia e mísera – foram as duas palavras usadas por Santo Agostinho para descrever o encontro de Jesus com a mulher adúltera. Essa passagem bíblica, segundo o Papa, ilumina a conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, “indica o caminho que somos chamados a percorrer no futuro”.

            Agora que o Jubileu terminou, Francisco diz que é tempo de olhar adiante e ver como continuar experimentando a riqueza da misericórdia divina. “ As nossas comunidades serão capazes de permanecer vivas e dinâmicas na obra da nova evangelização na medida em que a ‘conversão pastoral’, que estamos chamados a viver, for plasmada dia após dia pela força renovadora da misericórdia”.



1.Celebração eucarística



            Em primeiro lugar, Francisco aponta a celebração da misericórdia através da Missa. Dirigindo-se aos sacerdotes de modo especial, o Papa recomenda a preparação da homilia e o cuidado na sua proclamação. “Comunicar a certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de credibilidade do próprio sacerdócio”, adverte o Pontífice. O Papa faz algumas sugestões, como de um domingo dedicado inteiramente à Palavra de Deus, em prol de sua difusão, conhecimento e aprofundamento.



2.Perdão



            O Pontífice dedica amplo espaço na Carta Apostólica para falar do sacramento da Reconciliação, “que precisa voltar a ter o seu lugar central na vida cristã”. Francisco agradece aos “missionários da misericórdia”, que ele instituiu no início deste Jubileu para aproximar os fiéis da confissão. De fato, determinou que este ministério não termine com o fechamento da Porta Santa, mas permaneça até novas ordens. Aos confessores, o Papa pediu acolhimento, disponibilidade, generosidade e clarividência. “Não há lei nem preceito que possa impedir a Deus de reabraçar o filho. Deter-se apenas na lei equivale a invalidar a fé e a misericórdia divina”, escreve, pedindo que seja reforçada nas dioceses a celebração da iniciativa “24 horas para o Senhor”, nas proximidades do IV domingo para a Quaresma.



3.Absolvição do aborto



            Neste contexto, se encontra a grande novidade da Carta Apostólica. A partir de agora, o Pontífice concede a todos os sacerdotes a faculdade de absolver a todas as pessoas que incorreram no pecado do aborto. “Aquilo que eu concedera de forma limitada ao período jubilar fica agora alargado no tempo, não obstante qualquer disposição em contrário. Quero reiterar com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque põe fim a uma vida inocente; mas, com igual força, posso e devo afirmar que não existe algum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir, quando encontra um coração arrependido que pede para se reconciliar com o Pai. Portanto, cada sacerdote faça-se guia, apoio e conforto no acompanhamento dos penitentes neste caminho de especial reconciliação.”



4.Fraternidade de S. Pio X



            Na mesma linha, o Papa estende a absolvição sacramental dos pecados aos fiéis que frequentam as igrejas oficiadas pelos sacerdotes da Fraternidade de São Pio X, instituída no Ano Santo. “Para o bem pastoral destes fiéis e confiando na boa vontade dos seus sacerdotes para que se possa recuperar a plena comunhão na Igreja Católica, estabeleço por minha própria decisão de estender esta faculdade para além do período jubilar, até novas disposições sobre o assunto, a fim de que a ninguém falte jamais o sinal sacramental da reconciliação através do perdão da Igreja.”



5. Caridade



            Francisco fala ainda da importância da consolação, principalmente na família e no momento da morte, mas é à caridade que dedica outra grande parte da Carta Apostólica: “Termina o Jubileu e fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece sempre aberta. (…) Por sua natureza, a misericórdia se torna visível e palpável numa ação concreta e dinâmica”.

            O Papa cita algumas iniciativas deste Ano Jubilar, como as sextas-feiras da misericórdia, para agradecer aos inúmeros voluntários que dedicam seu tempo ao próximo. Mas para incrementar essas iniciativas, o Pontífice pede que se “arregace as mangas”, com imaginação e criatividade. As obras de misericórdia – escreve – têm “valor social” diante de um mundo que continua gerando novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas.

            “O caráter social da misericórdia exige que não permaneçamos inertes mas afugentemos a indiferença e a hipocrisia para que os planos e os projetos não fiquem letra morta.” Para Francisco, com as obras de misericórdia se pode criar uma verdadeira revolução cultural.



6.Dia Mundial dos Pobres




            No final da Carta Apostólica, como mais um sinal concreto deste Ano Santo Extraordinário o Pontífice institui para toda a Igreja o Dia Mundial dos Pobres, a ser celebrado no XXXIII Domingo do Tempo Comum. “Será a mais digna preparação para bem viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, que Se identificou com os mais pequenos e os pobres. Será um Dia que vai ajudar as comunidades e cada batizado a refletir como a pobreza está no âmago do Evangelho e tomar consciência de que não poderá haver justiça nem paz social enquanto Lázaro jazer à porta da nossa casa. Além disso este Dia constituirá uma forma genuína de nova evangelização.”

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Rezemos pelos fieis defuntos

CARTA SOBRE ALGUMAS QUESTÕES RESPEITANTES À ESCATOLOGIA 

 SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ

Esta Sagrada Congregação, que tem a responsabilidade de promover e de defender a doutrina da fé, propõe-se hoje recordar aquilo que a Igreja ensina, em nome de Cristo, especialmente quanto ao que sobrevêm entre a morte do cristão e a ressurreição universal.
1) A Igreja crê (cf. Símbolo dos Apóstolos), numa ressurreição dos mortos.
2) A Igreja entende esta ressurreição referida ao homem todo; esta, para os eleitos, não é outra coisa senão a extensão aos homens da própria Ressurreição de Cristo.
3) A Igreja afirma a sobrevivência e a subsistência depois da morte de um elemento espiritual, dotado de consciência e de vontade, de tal modo que o « eu humano » subsista. Para designar esse elemento, a Igreja emprega a palavra « alma », consagrada pelo uso que dela fazem a Sagrada Escritura e a Tradição. Sem ignorar que este termo é tomado na Bíblia em diversos significados, ela julga, não obstante isso, que não existe qualquer razão séria para o rejeitar e considera mesmo ser absolutamente indispensável um instrumento verbal para suster a fé dos cristãos.
4) A Igreja exclui todas as formas de pensamento e de expressão que, a adoptarem-se, tornariam absurdos ou ininteligíveis a sua oração, os seus ritos fúnebres e o seu culto dos mortos, realidades que, na sua substância, constituem lugares teológicos.
5) A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera « a gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo » (cf. Const. Dei Verbum, I, 4), que ela considera como distinta e diferida em relação àquela condição própria do homem imediatamente depois da morte.
6) A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem depois da morte, exclui qualquer explicação com que se tirasse o seu sentido à Assunção de Nossa Senhora, naquilo que esta tem de único; ou seja, o facto de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos.
7) A Igreja, em adesão fiel ao Novo Testamento e à Tradição, acredita na felicidade dos justos que « estarão um dia com Cristo ». Ao mesmo tempo ela crê numa pena que há-de castigar para sempre o pecador que for privado da visão de Deus, e ainda na repercussão desta pena em todo o «ser » do mesmo pecador. E por fim, ela crê existir para os eleitos uma eventual purificação prévia à visão de Deus, a qual no entanto é absolutamente diversa da pena dos condenados. É isto o que a Igreja entende quando ela fala de Inferno e de Purgatório.
Pelo que respeita à condição do homem depois da morte, há que precaver-se particularmente contra o perigo de representações fundadas apenas na imaginação e arbitrárias, porque o excesso das mesmas entra em grande parte nas dificuldades que muitas vezes a fé cristã encontra. No entanto, as imagens de que se serve a Sagrada Escritura merecem todo o respeito. Mas é preciso captar o seu sentido profundo, evitando o risco de as atenuar demasiadamente, o que equivale não raro a esvaziar da própria substância as realidades que são indicadas por tais imagens.
Nem a Sagrada Escritura nem a Teologia nos proporcionam luzes bastantes para uma representação da vida futura para além da morte. Os cristãos devem manter-se firmes quanto a dois pontos essenciais: devem acreditar, por um lado, na continuidade fundamental que existe, por virtude do Espírito Santo, entre a vida presente em Cristo e a vida futura (a caridade, efectivamente, é a lei do Reino de Deus, e é pela nossa caridade aqui na terra que há-de ser medida a nossa participação na glória do Céu); por outro lado, os mesmos cristãos devem saber bem que existe uma ruptura radical entre o presente e o futuro, pelo facto de que à economia da fé sucede a economia da plena luz; ou seja, nós estaremos com Cristo e « veremos Deus » (cf. 1 Jo. 3, 2), promessa e mistério inauditos nos quais consiste essencialmente a nossa esperança. Se é certo que a nossa capacidade de imaginar não atinge isso, o nosso coração instintiva e profundamente tende para lá chegar.