HOMILIA DO CARDEAL JOSÉ
SARAIVA MARTINS
EM AGRADECIMENTO PELO BEATO ALBERIONE
CELEBRADA NA BASÍLICA DE SÃO PAULO
EM AGRADECIMENTO PELO BEATO ALBERIONE
CELEBRADA NA BASÍLICA DE SÃO PAULO
1. "A salvação do Senhor abraça o
universo".
A antífona do salmo responsorial desta
liturgia ressoa apropriada como nunca na nossa celebração de agradecimento
ao Senhor pelo grande dom que o dia de ontem deu à Igreja, e em particular à
Família Paulina, com a beatificação do Fundador, Pe. Tiago Alberione.
De facto, a salvação do Senhor oferecida a
todos os homens e a necessidade que cada criatura a conheça e a receba,
constituíram, pode dizer-se com razão, a única preocupação do novo Beato.
Da primeira inspiração, recebida no
alvorecer do século passado com a "maior compreensão do convite de
Jesus: Vinde todos a Mim", até ao fim da vida, no horizonte mental
e espiritual de Pe. Alberione encontrava-se sempre este anseio. Pe. Alberione
recordou continuamente que a missão da Família Paulina é universal; e
estimulou os filhos e as filhas a pensar e a desejar à grande:
"Ter um coração maior que os mares e os oceanos"!
2. Eis-nos, por conseguinte, a acolher o
apelo divino com os sentimentos e o espírito do beato Alberione.
O trecho evangélico há pouco proclamado,
sem dúvida, teria feito palpitar o coração de Pe. Alberione. Haverá outras
palavras da Escritura que ele sentiu mais suas do que estas? "Eu sou o
Caminho, a Verdade e a Vida": Pe. Alberione apresenta sempre estas
palavras como a "definição completa" que Jesus deu de Si mesmo.
Jesus Caminho, Verdade e Vida é, na visão
de Pe. Alberione, o Mestre-Pastor completo, "Jesus Cristo integral",
que "ensina, precede com o exemplo, comunica a graça que deve ser
acreditada e praticada". Por conseguinte, o Fundador nunca se cansou de
repetir que para a Família Paulina "a principal devoção... é esta:
"Jesus Mestre, Caminho, Verdade e Vida"".
Na linguagem do Pe. Alberione a palavra devoção
tem uma ampla ressonância, que ele mesmo esclarece: "Deve-se olhar
para Ele e contemplar toda a sua figura". O que exige que a pessoa se
abra completamente à presença e à obra de Cristo. Este dinamismo espiritual
e apostólico é resumido pelo Pe. Alberione com expressões eficazes:
"Eis Jesus Cristo, Verdade para a nossa inteligência; Caminho para a
nossa vontade; Vida para o nosso coração e sentimento".
Por conseguinte, cada membro da Família
Paulina compreende que se deve entregar a Cristo permitindo-lhe que habite e
cresça nele: "Quanto mais o homem viver em Jesus Cristo, Caminho,
Verdade e Vida, tanto mais será santo... Portanto, viva em nós Cristo,
Caminho, Verdade e Vida", deseja Pe. Alberione. E o resultado será
surpreendente: "Então já não será o homem que pensa, que deseja
e que ama; mas será Jesus Cristo que pensará por
ele, que amará nele, que terá nele todo o poder".
É assim que o Pe. Alberione concebe o
apostolado paulino: "O homem todo em Jesus Cristo, para um total
amor a Deus sintetiza eficazmente o Fundador : inteligência, vontade,
coração, forças físicas. Tudo: natureza, graça, vocação para o
apostolado" (AD 100).
Também a profissão de fé de Pedro, que
ouvimos na primeira leitura "Não há salvação em nenhum outro",
ressoa com frequência nos ensinamentos de Pe. Alberione. Mas, como sempre,
antes de ser anúncio aos outros, é para ele um tema de reflexão pessoal,
meditação e contemplação aos pés de Cristo eucarístico, durante muitas
horas. Tudo isto é traduzido em empenho de contínua conformação com o
Mestre, para a santidade, como escreve nos seus Apontamentos espirituais:
"A santificação. Ela concretiza-se unicamente em Cristo; completamente
santo quando "Cristo vive em mim". Ele é o único caminho, a única
verdade, a única vida: non est in alio aliquo salus. Sigamos o caminho
conformando o nosso comportamento com Jesus; conformando a mentalidade com
Jesus Cristo; conformando a vida do espírito com Jesus Cristo, participando
na sua graça, ou seja, na vida sobrenatural".
No trecho da Carta aos Romanos o apóstolo
Paulo, com uma sequência de perguntas, imerge-nos na
urgência de que Cristo Salvador seja conhecido e aceite por todos:
"Mas, como hão-de invocar Aquele em quem não acreditaram? E
como hão-de acreditar n'Aquele que não ouviram?... Que
formosos são os pés dos que anunciam boas novas!".
Não há dúvida de que Pe. Alberione assumiu em plenitude o impulso apostólico
de São Paulo, por ele definido "teólogo e arquitecto da Igreja".
Se é verdade que o coração de Paulo era o coração de Cristo, como diz a
bem conhecida expressão de Crisóstomo, pode-se afirmar que o coração de
Pe. Alberione era o coração de Paulo!
3. Ouçamos agora com que temas inspirados o
Fundador quer fazer "arder" o espírito dos seus filhos pela missão:
"O trabalho mais nobre e útil para a
sociedade é o apostólico: "Que formosos são os pés dos que
anunciam boas novas!". Foi o grande trabalho do ministério público de
Jesus Mestre... O Apóstolo é um cooperador: com Cristo, em Cristo, por
Cristo, trabalha pela salvação dos homens, comunicando-lhes os grandes bens
da fé, da santidade e da graça... Que os Nossos sintam como é grandiosa e
bela a sua missão: um dia verão os grandes merecimentos adquiridos...
Unir a vida contemplativa com a actividade é o caminho mais perfeito:
arder e iluminar! Duas espécies de merecimentos: santificação própria
e zelo da glória de Deus".
Cooperar na obra de salvação, anunciar ao
mundo Cristo, Mestre-Pastor, anunciá-lo com todas as linguagens novas da
comunicação, é o conhecido programa de Alberione, é o Cristo mesmo que se
revela aos homens através dos novos apóstolos, os apóstolos do nosso tempo.
Surge disto a sua insistência sobre a urgência de ser homens de Deus,
pessoas que se vão conformando com o Mestre Divino, homens e mulheres que se
deixam fascinar por Ele e transformar n'Ele.
Por conseguinte, apóstolos e apóstolas. Poderá ser
útil para nós ouvir como Pe. Alberiuone esboça a "alma apóstola":
"A alma apóstola não é uma alma que
ama a exterioridade: é uma alma que cumula o próprio coração de fé,
de esperança dos bens eternos; é uma alma que ama e exerce a virtude da
pobreza, da castidade, da humildade, da obediência à Igreja e aos seus
Pastores". [...] E acrescenta: "Portanto, a alma apóstola
deseja a glória de Deus e a paz dos homens, isto é, o seu bem, na medida do
possível nesta terra, mas fundamental e firmemente, e, desejaria dizer,
inexoravelmente o seu bem eterno, o Paraíso". [...]
A este ponto, como podemos sentir, sobressai
aquele fervor apostólico que tanto animou os santos, de todos os tempos:
"A alma apóstola gostaria de sair de casa, ir pelas estradas, pelas
cidades, pelas praias, pelos montes, às grutas: gostaria de ir à África,
à América, à Ásia, à Oceânia, para poder dizer a todos: "Ó
homens, Deus espera-vos no Céu. Salvai-vos!
Salvai-vos!". A alma apóstola tem um só
grito: "Dai-me almas e ficai com o resto. Eu, na terra, procuro
unicamente a glória de Deus e a paz dos homens"".
A única aspiração da "alma apóstola",
é a mesma de Jesus. O apóstolo arde por um só ideal: dar a conhecer
Jesus, dá-lo a conhecer a todos, consumir-se abundantemente como São Paulo
para se fazer tudo em todos.
Foi o que viveu em primeira pessoa o Beato
Pe. Tiago. E é também a recomendação que faz a cada um dos seus filhos e
filhas, que me apraz repetir esta tarde. Ele dizia:
"Levar a todos o bem extremo. A todos ajuda de oração, de conselho, de
palavra, de edições, de ministério, de exemplo. [...] O maior bem na
escola, o maior bem com a pregação, o maior bem no confessionário, o maior
bem nas edições...".
"Levai, portanto, o maior bem".
Assim seja hoje, amanhã, todos os dias e sempre. Eis a herança preciosa que
o Fundador deixa à sua Família paulina.
Faço meus os votos expressos ontem pelo
Santo Padre: que, fiéis a essa herança, os seus filhos e filhas
"mantenham inalterado o espírito das origens para corresponder de modo
adequado às exigências da evangelização no mundo de hoje" (Homilia
na Missa de beatificação).
Em nome do Senhor e em nome do novo beato
Tiago Alberione. Amen.
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