Ótimo texto sobre hábito religioso. Infelizmente o abandono do hábito
religioso pelos religiosos, após o Vaticano II, que nunca impôs
isto,(nem recomendou isto) enfraqueceu bastante a vida consagrada
secular, porque igualou religiosos, a consagrados leigos, na sua distinção
visível.
Ao longo da história da
Igreja, o hábito dos religiosos teve uma grandíssima importância, porque os
religiosos não só estão chamados a uma vida de total consagração a Deus, mas
também a manifestar e testemunhar
publicamente sua consagração.
O Concílio Vaticano II afirma
que “o hábito é sinal de consagração” (Cf. Perfectae Caritatis, n. 17). Os
sinais devem ser empregados mais que nunca, “sobretudo neste mundo de hoje, que
se mostra tão sensível à linguagem das imagens…onde se é tão timidamente
debilitado o sentido do sagrado, o povo sente a necessidade destes apelos a
Deus, que não podem ser abandonados sem um certo empobrecimento do nosso
serviço sacerdotal”[1].
Este sinal “para o religioso
expressa sua consagração e põe em evidência o fim escatológico da vida
religiosa”[2]. Os religiosos de nosso Instituto vestem o santo hábito, que é
sinal de sua consagração e testemunho de sua pobreza[3]. O valor do hábito está
dado “não só porque contribui com o decoro do sacerdote em seu comportamento
externo ou no exercício de seu ministério, mas, sobretudo, porque evidencia na
comunidade eclesiástica o testemunho público que cada sacerdote está chamado a
dar da própria identidade e especial pertença a Deus”[4]. Amamos, pois, o
hábito, que vestimos como uma segunda pele. Dizia São Francisco de Assis que só
com a presença do religioso vestido com seu santo hábito já se prega[5].
Imposição de Batinas
“O hábito faz referência a uma
realidade mais profunda, interior, espiritual, que é o fato de pertencer a
Cristo”
O religioso que deixa as
vestes seculares para vestir o hábito, manifesta que deixa o mundo e as coisas
do mundo, para abraçar o mesmo modo de vida de Cristo: casto, pobre e
obediente. Por esta razão o hábito é sinal de consagração.
O hábito é um sinal e como tal
faz referência a uma realidade mais profunda, interior, espiritual, que é o
fato de pertencer a Cristo, a união íntima com Ele. Quem veste o hábito
manifesta na realidade que se revestiu de Cristo. Todo batizado se reveste de
Cristo com o batismo, mas muito mais ainda o religioso, porque consagra toda
sua vida a uma união mais perfeita com Ele. Por isso se diz que a consagração
religiosa é como um segundo batismo, porque leva a plenitude as exigências do
batismo. O Concílio Vaticano II afirma: “A profissão religiosa tem suas mais
fundas raízes na consagração batismal, que a aperfeiçoa de modo pleno”
(Perfectae Caritatis, 5). João Paulo II na exortação post sinodal Redemptionis
donum, n. 7 afirma: «A consagração religiosa constitui, sobre a base sacramental
do santo batismo, uma nova vida para Deus em Jesus Cristo». E por esta razão se
pode dizer que o religioso é aquele que por excelência se reveste de Cristo, o
que se manifesta justamente, vestindo o hábito do Instituto.
O Hábito Religioso
“O hábito é sinal de
consagração.”
No mundo do sensível, é
necessária também uma manifestação sensível de nossa consagração. Da batina que
usamos como sacerdotes religiosos se pode aplicar as palavras do Beato Manuel
González falando daquilo que pode fazer um Padre só com a sua presença[6]. Só a
presença do Padre, independentemente de suas virtudes e talentos, de sua
simpatia e antipatia, exerce um grande poder. Para o mundo a presença do Padre
é um protesto, uma lembrança e um remorso.
Um protesto: em uma sociedade,
por corrompida que esteja, o hábito combate a
imposição do vício e dos enganos, porque a presença de uma pessoa
consagrada diz a muitas pessoas que o que elas estão fazendo está mal.
Uma lembrança de seus deveres:
não se pode ver um Padre, veja-se como se veja, sem que nos lembremos de que
Deus existe, que existe um Credo, que existem os mandamentos, que existe outra
vida com castigos e prêmios. Prova disso são as discussões que só o passar de
um Padre levanta. O Padre com seu hábito, até sem dar-se conta, é uma constante
promulgação do catecismo, é como se fosse o Evangelho andando pela rua.
Um remorso: e isso explica o
rancor e a raiva que a muitos provoca a presença de um padre, seja conhecido ou
desconhecido.
O Padre com seu hábito pode
ser chamado de consciência visível da humanidade e a raiva que contra ele se
sente não é nem mais nem menos que a mesma que se sente contra o grito
inoportuno e ameaçador da própria consciência que recrimina as más ações.
[1] JOÃO PAULO II, Carta La
cura dell’amata diocesi ao Card. Ugo Poletti, Vigário Geral para a Diocese de
Roma (08/09/82); OR (24/10/82), p.5.
[2] Ibidem.
[3] Cf. CODIGO DE DIREITO
CANÔNICO, c. 669, § 1.
[4] JOÃO PAULO II, Carta La
cura dell’amata diocesi ao Card. Ugo Poletti, Vigário Geral para a Diocese de
Roma (08/09/82); OR (24/10/82), p.5.
[5] Cf. FRANCISCO DE ASSIS,
Fioretti.
[6] Cf. MANUEL GOZÁLEZ, Lo que
puede un Cura hoy.